Quando era criança sempre procurava fazer atividades fora de casa, odiava dias de chuva pois era obrigado a ficar trancado sem nada pra fazer. Não podia reclamar muito já que as atividades internas também eram bem legais, costumava montar quebra cabeças, desmontar equipamentos com defeito, brincar de carrinhos, lego e outros brinquedos do tipo.
Meu primeiro vídeo game foi um Phanton, eu tinha uns 7 anos, era uma pistola com um jogo de 7 games, bem básico. Depois ganhei um Super Nintendo e um 64 no mesmo mês. Era muito legal jogar mas como os jogos não eram tão fáceis como hoje eu jogava pouco. Um pouco depois ganhei um PS1, esse eu aproveitei bastante, tinha lá meus 13 anos, eu jogava bastante, mas com restrições.
Eu cresci com uma regra que até hoje sigo, tempo bom é pra ficar do lado de fora, tempo ruim dentro de casa. Eu até hoje não consigo ligar uma televisão em casa com sol do lado de fora, parece piada mas me sinto mal, não consigo entender como alguém assiste um filme às 2 da tarde com um sol de rachar do lado de fora, isso me intriga. Se o tempo está ruim eu aceito ficar dentro de casa e ainda assim não ligo a tv. O único momento da minha vida que liguei a televisão a tarde sem chuva foi quando peguei COVID, mesmo assim fiquei péssimo e não assisti mais de 10 minutos.
Minha infância foi foda, jogava bola na rua, brincava de pique esconde tanto na casa dos amigos quanto na rua mesmo, era a galera da rua, qualquer lugar era esconderijo, lembrando também que a noite rolava um pique esconde quase que no bairro, quem ficava com o pique ficava quase 20 minutos procurando os outros pra chegar no final e alguém bater salve todos, era foda!
Além de pique, tinham as trilhas, guerra de abacate e fora a molecagem clássica de tocar interfone dos outros, acho que quase tudo isso hoje daria processo e polícia. Uma vez coloquei sabão em pó em um lago na cidade com chafariz, aquilo foi demais, o lago todo cheio de espuma, coisas que só criança tem coragem de fazer, adulto só pensa nas merdas que isso pode dar.
Hoje eu vejo um criação totalmente diferente, os pais para "acalmar" os filhos acabam entregando celular e tablets para as crianças com 5 anos de idade, mal sabem o mal que isso vai causar no futuro. Eu escuto os pais falando "meu filho já sabe mexer em tudo", mas não sabe mais bater prego em sabonete.
O uso de equipamentos eletrônicos por crianças é extremamente nocivo ao desenvolvimento, sem falar do sistema imunológico, as crianças de hoje não podem mais pisar no chão que pegam várias doenças de uma vez. Estão criando mal as crianças de hoje, não estão preparando pra vida fora da bolha.
Outro dia vi uma criança fazendo pirraça até o pai dar o celular pra ela, absurdo. Parece que eu nunca joguei vídeo game certo? Não! Comecei explicando como eram as regras para chegar até aqui, eu jogava, a noite nos finais de semana se não chovesse. Em dias de aula e com sol, era rua, quintal, casa dos amigos, qualquer coisa a regra era simples.
Nunca entendia o propósito disso, hoje consigo entender. Sei fazer desde a instalação do meu aquecedor de água com pressurizador ao meu portão de pedestres de casa. É muito difícil eu pagar alguém para fazer alguma coisa em casa, no máximo quando não tenho saco como por exemplo pintar, sei fazer mas por questões de sujeira, tempo e paciência, sai mais barato pagar alguém.
A geração Nutella de hoje está perdida, não sabe mais o que é pisar na terra, abrir o tampo de dedão do pé, cair de árvore, jogar o amiguinho na lama, coisas saudáveis de antigamente. Eu lembro de brincar com arma de espoleta com aquelas bolinhas, era foda tomar um tiro daquilo e estou vivo e sem nenhum tiro nos olhos!
Não acho que todo mundo precisa ser o Magaiver nem ter domínio de diversas ferramentas como eu, mas o básico todo mundo deveria saber. Eu montei com 10 anos um quebra cabeças de 10 mil peças, real com peças de verdade, hoje é online com ajuda, se não tiver dica a pessoa desiste e vai pra outro.
Não sei onde vamos parar com tanta facilidade, acho que um pequeno grupo se destaca e acaba sempre sobressaindo. As crianças dos celulares vão sentir o preço da falta de paciência dos pais e a busca por uma solução rápida quando forem mais velhos. Entendo que todo mundo precisa de um tempo de jogos eletrônicos, fazem bem, mas não são o principal, aquele tombo na infância ou aquela arremessada de ovo podre na casa dos outros não cria marginais, cria crianças que no futuro sabem as consequências disso.
Por fim, fechei esse texto no momento da virada do ano, segue a tradição.